Bêbado Quântico
Hoje vou me embriagar de
realidade... Vou me deixar levar pela
ladeira da razão, cambaleando por entre becos, à luz de perdida ilusão. Engasgar
com o fruto ingrato de colheita compulsória e maldita, marcado de escolhas colhidas
por mim, ontem.
Quero beber tudo de vez, em taça
de turmalina, sem remorsos, para não sentir o gosto do fel, no amargo de minha indelével
certeza, que vive sussurrando em pensamento alto e claro, a cupidez de ser eu o
que ainda nem sei se sou, ou se ainda, de algum estranho modo, rejeito.
Brindar pelo completo fracasso
das conquistas transitórias, supérfluas, de tanto prazer fugaz e, ao que me
falte de concreto e sincero, rir, quem sabe até, chorar.
Viver num instante a parte de um
todo, repique de momento, já morto, entrelaçado no tempo, cada vez mais distante,
sendo meio, mas presente, ciente de um passado, quase sonho, vivendo um real
começo ou um inteiro inacabado da arte divina. Ah! Esse ceticismo embasado por parca
ótica cristalina de consciência humana adormecida, cuja única inabalável certeza
seja, ainda talvez, morrer.
Feliz sina que só se explica
quando se mede, mas que perde a mesma medida por ser ela mesma da parte medida,
e agora também, estar no próprio contexto, contida. Mundo louco para quem ainda
no charco do ser, engatinha. E zonzo nessa lida, o que me resta nessa vida é pedir
mais uma dose, para quem sabe, afogar de vez a consciência dessa pequenez que
tanto me fez, triste.
Novamente encarar a
incompreensível dualidade semântica do estar ou do ser, naquilo em que me
torno, ou naquilo que já sou. Pedindo um sempre mais, que ainda não tenho, ou
que ainda nem sou, sempre ou jamais.
Hoje quero brindar viver feliz
novamente
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